A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou neste sábado a segunda morte por intoxicação por metanol, de um homem de 46 anos. O governo paulista informou ainda que investiga outras sete mortes suspeitas pela mesma causa: quatro na capital (homens de 36, 45, 50 e 70 anos), duas em São Bernardo do Campo (homens de 49 e 58 anos) e uma em Cajuru (um homem de 26 anos).
Segundo a Secretaria da Saúde, há 148 casos de possível intoxicação por metanol em investigação no estado, enquanto 15 já foram descartados. A primeira morte confirmada foi a de um homem de 54 anos, morador da Mooca, na Zona Leste da capital. Ele apresentou sintomas em 9 de setembro e morreu no dia 15. O caso só foi relacionado recentemente à atual onda de intoxicações.
O que é o metanol?
O metanol é um produto químico usado em aplicações industriais e domésticas, como diluentes, anticongelantes, vernizes e até fluido para fotocopiadoras. Assim como o álcool presente na cerveja, no vinho e nos destilados, o metanol é um líquido incolor com cheiro semelhante ao do álcool consumido nessas bebidas, mas muito mais barato de produzir. Isso faz com que ele seja utilizado em bebidas adulteradas.
Dificilmente será possível perceber a adulteração no momento do consumo, já que seu gosto e efeito são semelhantes aos da bebida não adulterada. No entanto, os efeitos prejudiciais aparecem apenas horas depois, quando o organismo tenta eliminá-lo.
A ingestão de pequenas quantidades pode ser extremamente prejudicial à saúde, e algumas doses do composto podem ser fatais.
Como o metanol age no organismo
O álcool é metabolizado no fígado. No caso do metanol, esse metabolismo gera subprodutos tóxicos chamados formaldeído, formato e ácido fórmico. Eles atacam nervos e órgãos, sendo o cérebro e os olhos os mais vulneráveis, o que pode levar à cegueira, coma e morte.
A toxicidade do metanol está relacionada à dose ingerida e ao organismo. Assim como ocorre com o álcool etílico (etanol), quanto menos a pessoa pesa, mais pode ser afetada por uma determinada quantidade.
Normalmente, os efeitos demoram entre 40 minutos e 72 horas para aparecer. Os primeiros sinais são semelhantes aos da intoxicação por álcool e incluem problemas de coordenação, equilíbrio e fala, além de confusão e vômitos. Ao mesmo tempo, a pressão arterial cai, resultando em tontura e desmaios.
Em fases posteriores — cerca de 18 a 48 horas após a ingestão — o ácido fórmico, que interrompe a produção de energia nas células, provoca queda do pH sanguíneo, danificando tecidos e órgãos. Isso pode causar insuficiência renal, convulsões e até hemorragia gastrointestinal.
Uma mudança brusca na frequência cardíaca — acelerando rapidamente ou desacelerando acentuadamente — é muitas vezes um sinal de caso fatal, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
O efeito de relaxamento muscular também compromete o sistema respiratório, causando dificuldade repentina para engolir e respirar.
“A pressão arterial baixa — hipotensão — e a parada respiratória ocorrem quando a morte é iminente”, acrescenta o CDC. O tratamento geralmente depende da gravidade do envenenamento, mas apenas exames de sangue podem confirmar o diagnóstico.
A intoxicação por metanol tem tratamento?
Devido ao seu rápido efeito no organismo, o início do tratamento deve ser feito assim que houver suspeita de intoxicação. Em ambiente hospitalar, existem medicamentos que podem ser administrados para tentar limpar o sangue, assim como a aplicação de diálise.
Surpreendentemente, alguns casos podem ser tratados com álcool (etanol). Isso porque a metabolização do etanol pelo fígado pode atrasar o metabolismo do metanol e reduzir seu efeito tóxico no corpo. Mas a aplicação deve ser feita rapidamente.